GRUPO 12 – Repressão familiar na infância e seus aspectos negativos na vida adulta.
Iniciaremos nosso texto, nos referindo a quarta fase descrita por Erikson, indústria X inferioridade. Erikson nos diz que são os anos da escola primária, tempo em que o amor pelo pai ou pela mãe e a rivalidade pelos mesmos ficam em repouso.
O interesse pela maneira como as coisas são feitas, como funcionam e para que sirvam encaixa-se perfeitamente no senso de indústria. Se ao contrário os pais podarem toda essa curiosidade, sempre ressaltando aspectos negativos de seu filho (a) estimularão o senso de inferioridade.
Nessa fase, uma das instituições sociais (escola) vem desempenhar um importante papel na crise de desenvolvimento do indivíduo. Se a criança for desestimulada no lar, poderá tê-lo revitalizado na escola. Para criar o senso de indústria ou inferioridade já não depende unicamente dos cuidados zelosos dos pais, mas das ações e iniciativas, também de adultos que interagem com ela. Abaixo um relato de um indivíduo que passou por uma repressão na infância.
“Minha incursão no mundo da leitura, que passou pela escrita e chegou à pesquisa vem desde a tenra idade. Nada tem a ver com a escola. Esta aprimorou uma alfabetização adquirida na infância pela minha mãe. Nela houve uma melhor sistematização daquilo que sabíamos o acréscimo de algumas informações e a poda de muitas outras coisas que, segundo as professoras, era cedo saber. Na escola e em casa fui forçado a fazer muitas atividades que eu não gostava.
Meus pais pertenciam a uma religião que classifico como fundamentalista. O resultado disso foi que durante um bom período de minha infância minhas leituras se restringiram a textos bíblicos. Os evangelhos, as cartas paulinas e, claro os salmos e provérbios. Muita coisa eu não entendia, ou seja, eu li muito sem levar em conta o contexto e sem saber o significado do mesmo.
Outra característica desse tempo foi minha acriticidade. O sagrado foi de tal modo incutido em mim como algo, irremediavelmente dado que seria perda de tempo querer questionar. Até meus dez anos vivi assim.
Eis que surge minha mãe em cena. Diarista, certo dia ela ganhou uma sacola de gibis. Trouxe para casa e foi obrigada por meu pai a consumir com aquelas bobagens. Consegui salvar um exemplar debaixo do meu colchão. Sei que era da Walt Disney. Não lembro uma história sequer. Apenas recordo um título parcial sobre um belo desenho: “cai a noite em Patopólis”. (Repressão é um mecanismo de defesa que consiste em afastar ou recalcar da consciência, pensamentos dolorosos, inoportunos, etc., permanecendo tudo no inconsciente. Porém todo esse material reprimido está lá e continua fazendo parte da nossa psique, onde por vezes nos atrapalhando. E todo esse material inconsciente pode ser evocado).
“Na escola jamais tive momentos de leitura. Nenhum (a) professor (a) falou apaixonadamente sobre algum autor. Mas castigo havia. Até a sexta série fui muito castigado. Tive uma diabólica professora que adorava dar lições de moral em nós, e aluno que incomodava tinha que ficar de castigo na biblioteca. Biblioteca era lugar de silêncio, o espaço ideal para quem não ficava calado em meio as suas explanações.
A bibliotecária era carrancuda odiava alunos. Ironicamente, porém, foi lá e por ela que ouvi a primeira história contada: As Bodas. Não me lembro do que se trata nem sei quem é o autor. Sei que gostei, ia à contramão do que eu lia sobre as Bodas Celestiais.
Para Freud a sublimação é responsável pela civilização, já que é resultante de pulsões subjacentes que encontraram vias acessíveis para o que é reprimido. A sublimação é um processo de deslocamento, é um meio no qual os indivíduos utilizam para desviar idéias que os perturbam.
“No final da oitava série, quase iniciando o ensino médio agarrei uma mania devido ao meu comportamento de alguém que não é mudo: semanalmente ia para biblioteca como castigo por conversar em demasia.
Consciente ou não as atitudes questionáveis dos professores muito contribuíram para o meu ingresso na leitura. Eles não me indicaram obras, jogaram-me no meio e, como que dissessem “te vira”, eu tive que fazer algo.
Erikson diz que na fase da identidade X confusão de papéis, a tarefa do adolescente é reunir todas as coisas que tenha aprendido sobre si mesmo como filho, aluno, amigo, etc., e que apresente continuidade com o passado enquanto se prepara para o futuro. Se o jovem conseguir ser bem sucedido nesse estágio, atingirá um senso de identidade psicossocial, um senso de quem ele é, onde está e para onde vai.
Erikson tem enfatizado que a vida é uma mudança constante e que resolver problemas, em qualquer estágio determinado da vida, não constitui garantia contra a ocorrência de novas soluções para problemas anteriores em estágios subseqüentes.
“Já estagiário, minhas leituras mesclavam interesses literários com os professores. Estes enveredaram para a Qualidade Total e para a área da Informática.
Foi aí que descobri a escrita. Igualmente percebi que o lido vinha à tona na hora de escrever. Euforicamente notava que escrever me libertava de amarras ideológicas, isto é, eu era livre para dizer o que bem entendesse sem ser condenado por isso- afinal, eu não precisava mostrar meu texto a ninguém. Escrevia, nessa época, como uma terapia, tal ato me aliviava.
Tive dois grandes saltos literários, por assim dizer. O primeiro deles foi quando iniciei um curso técnico em segurança do trabalho. Nele os professores me ensinaram que um jornal possui mais que páginas esportivas e policiais. Tive aulas de redação, um português chamado instrumental e leituras que mesclavam auto-ajuda e ficção. O segundo salto foi minha entrada na faculdade de letras. Além de aprofundar bastante as leituras, aprendi a contextualização de um texto. No entanto, nunca ficar preso a eles. Ler muito, e buscar referenciais é o que nos vai tornando pesquisadores. Assim é que vamos como que duvidando daquilo que nos dizem e as leituras vão sendo ampliadas. Nossas deficiências começam sobressair e vamos buscando saná-las.
“Torna-se um processo circular: lê-se, escreve-se, ratifica-se ou retificam-se as bases teóricas e se faz tudo novamente.” (27/10)
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
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