terça-feira, 20 de maio de 2008

O que permanecerá na memória do seu aluno depois que o tempo apagar os conteúdos?

As primeiras professoras foram, para muitos da minha geração, verdadeiras inspirações para construirmos o que hoje somos. Algumas carregamos nos nossos corações com tanta admiração e carinho, assim como elas nos carregavam pela mão, até a sala de aula, na fila formada no pa´tio da escola.
Busco nas minhas lembranças imagens desse tempo. Os professores, naquela´época, eram o exemplo de todos os valores que ouvíamos em casa e que se confirmavam na escola.
O mês de outubro sempre me reporta a esse tempo. Lembro dos professores que tive, desde aqueles dos tempos de infânciam, até os mais recentes, da minha trajetória acadêmica.
Proponho um tema de casa especial para você professor. Responder as seguintes perguntas: Seus alunos, daqui a um bom tempo, lembrarão de você com admiração, orgulho e carinho? Sua atenção está voltada mais para as disciplinas ou para eles? Você se preocupa mais se o seu aluno está feliz na sala de aula ou em cumprir a listagem de conteúdo? O que permanecerá na memória do seu aluno depois que o tempo apagar os conteúdos?
Eis a proposta. Pensar. Pensar sobre a nossa prática.
Segundo Assmann, processos cognitivos e processos vitais devem estar bem articulados quando se trata de aprendizagens, pois se aprende não só com o cérebro, mas com o coração. E que se entenda, que junto com o conteúdo desenvolvido, afinal, ele é necessário, não esqueçamos de incluir a curiosidade, a alegria, o riso, a escuta, a interação, o respeito, o cuidado.
Lembro de um antigo texto de Moacyr Scliar em que ele cita um filme chamado Milagre em Milão. No filme, há um garotinho que é criado pela avó. Ela sai e lhe deixa a incumbência de cuidar o leite que estava no fogo. O menino se distrai, o leite derrama e forma um riozinho branco no chão da cozinha. Quando a avó retorna, em vez de repreender o garoto, ela busca miniaturas de casinhas, carrinhos, árvores, pessoas e constrói uma minúscula cidade às margens do rio de leite.
Scliar, então nos convida a pensar sobre esse gesto, tão curioso quanto significativo. A avó do garoto usou o incidente como recurso pedagógico e recorreu a um elemento profundamente simbólico: o leite, que é a imagem da mãe, que tudo perdoa e ensina sempre, mesmo no chão da cozinha.
Naquele momento, a velhinha não estava dando nenhuma lição. Ela estava inspirando. E aqui, recordo o dito: " O professor medíocre fala, o bom professor, explica, o ótimo professor, demonstra, mas o verdadeiro mestre é aquele que inspira".
Sejamos mestres.
Cleonice Guerra - Professora do Ensino Fundamental - Zero Hora

Um comentário:

Tutora Daisy disse...

Esse é um texto dessa autora Cleonice Guerra? É um ótimo texto. O professor necessita estar sempre refletindo. Gostei da parte dos professores, embora não concorde com a parte do rio de leite. Tudo bem que não se precisa fazer uma briga porque o leite derramou, mas é preciso alertar a criança para os perigos de ela se queimar com o leite quente, de chegar perto do fogão. Não que ela não possa fazer, mas precisa cuidar como fazer. O texto é bonito, poético, inspirador. Mas, como brincar em cima do leite quente que pode machucar, causar uma queimadura na criança? É preciso cuidado e mostrar à criança isso. Depois, pode-se transformar esse leite derramado em ludicidade, como fez a vó. Tudo tem dois lados. Essa exposição que fiz vale tanto para a situação concreta, como para a metáfora. E você, o que acha? Qual é sua opinião?